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Transneptunian Occultation Network

Concepção artística do Centauro Chariklo e seu sistema de anéis. Seus anéis foram descobertos por uma ocultação estelar.

O TON – Rede de Ocultações Transneptuniana – é uma colaboração global composta por Centros e Grupos de Pesquisa e astrônomos não profissionais. Trata-se de um esforço coletivo para observar ocultações estelares por pequenos corpos do Sistema Solar, com um enfoque maior voltado para objetos situados além da órbita de Netuno. Portanto, o objetivo geral desta colaboração é produzir e distribuir predições de ocultações estelares para estes objetos, fomentar a participação de observadores em campanhas observacionais desses eventos e coordenar e garantir a produção de conhecimento científico a partir desse esforço coletivo, que tem como característica ímpar o envolvimento direto da sociedade em suas atividades.

Um fator crítico para estudar corpos pequenos e distantes no Sistema Solar é o seu reduzido brilho e, por isso, as grandes limitações impostas para produzir observações diretas. A técnica de ocultação estelar, por outro lado, se concentra em observar a estrela que será ocultada pelo objeto transiente. O bloqueio temporário desta luz estelar permite o estudo indireto de características do corpo ocultador como a presença e composição de atmosferas, seus tamanhos e seus arredores (presença de anéis). 

A ocultação estelar ocorre, portanto, quando um corpo (por exemplo, um asteroide) cruza a linha de visada formada por um observador – normalmente na Terra – e uma estrela (ver vídeo). Mede-se a variação da luz da estrela que resulta do evento de ocultação (curva de luz) e a partir dessas medidas pode-se determinar a forma e a dimensão do objeto que pode atingir precisão de poucos quilômetros, saber mais sobre estruturas em suas vizinhanças imediatas, bem como detectar e estudar atmosferas com pressões até 1 bilhão de vezes menor que a terrestre. Tal estudo requer um grande esforço para prever quando e onde uma dessas ocultações ocorrerá (veja este link sobre previsões de ocultações feitas pelo Grupo do Rio e colaborações), para observá-la, e também para extrair informações científicas dessas observações.

Descrição do Vídeo: Sequência real de imagens, obtidas em intervalos de 0.1s, no European Southern Observatory (ESO, Chile/La Silla). Perceba que a imagem da estrela brilhante ao centro dá uma “piscadela”, desaparece, reaparece, e dá então uma última “piscadela”. As “piscadelas” ocorrem devido a passagem dos anéis na frente da estrela, enquanto que o desaparecimento da estrela por maior tempo ocorre quando o objeto, no caso Chariklo, passa na sua frente.re/Lucie Maquet.

O mapa da imagem indica locais com observatórios profissionais e telescópios amadores (fundamentais) que colaboraram ao menos uma vez com as campanhas observacionais organizadas pela nossa equipe. Trata-se de um trabalho estimulante e que envolve, além de observações realizadas mundo afora, institutos de pesquisa nacionais e estrangeiros. Ainda, com o advento dos resultados em astrometria da missão espacial GAIA, que fornece posições e movimentos próprios estelares com precisão sem precedentes para cerca de 1 bilhão de estrelas espalhadas por todo o céu, já temos um grande salto na quantidade e qualidade da predição dos eventos de ocultação e consequente impulso nesse estudo.

Descrição da figura: Locais com observatórios profissionais e telescópios amadores que já participaram de campanhas observacionais organizadas pela nossa equipe. Cores diferentes indicam envolvimento em campanhas observacionais voltadas a diferentes objetos. Recentemente, obtivemos a colaboração de astrônomos amadores da China e da Rússia.

Este projeto científico produziu importantes resultados e descobertas ao longo de sua existência. Dentre elas destacamos a descoberta de anéis em asteroides (Braga-Ribas et al., 2014), a presença de anéis além do limite estabelecido pelas teorias atuais (Morgado et al., 2023), a presença de múltiplos anéis em torno de asteroides (Pereira et al., 2023), a determinação de características físicas que planetas anões (Sicardy et al., 2011, Dias-Oliveira et. al, 2015, Ortiz et al., 2017),  o estudo de variações sazonais em satélites neptunianos (Marques-Oliveira et al., 2022), dentre outros.

Nossa participação no Dark Energy Survey (DES), bem como o suporte dado pelo LIneA, nos permitiram dar um passo ao mesmo tempo ambicioso e necessário: conseguir estudar TNOs, Centauros e outros pequenos corpos de brilho muito tênue (centenas de milhões a dezenas de bilhões de vezes mais fracos que as estrelas que vemos a olho nú no céu noturno), avançando mais profundamente sobre um mundo ainda desconhecido, bem como obter o “know-how” de trabalho num ambiente de grandes massas de dados. Atualmente estamos trabalhando intensamente no desenvolvimento de um serviço de predições para disponibilizar à comunidade um portal de acesso à todas as ocultações que serão produzidas com nossa participação  no Legacy Survey of Space and Time (LSST).

Contato para o projeto científico:
Julio Camargo (ON/LIneA) – confirmar

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